6 de jan. de 2011
A Torcida do Galo - Mauro Beting
"O melhor lance do Atlético não foi num jogo.
Foi fora dele. Foi numa derrota.
Minto, num empate de um time invicto, o supervice-campeão do BR-77.
Não foi o melhor jogo ou jogada.
Mas não teve nada mais atleticano que aquilo: depois da derrota nos pênaltis para o São Paulo, Mineirão e Brasileirão estupefatos pela queda sem derrota de um senhor time de bola, os jogadores baqueados e barreados pela chuva e pela lama se abraçaram no gramado e assim foram ao vestiário.
Foi a primeira vez que vi a cena reverente que virou referência.
Ninguém estava fazendo marketing (nem existia a tal palavra).
Nenhum jogador estava jogando pra galera.
Era fato.
Time e torcida estavam juntos naquele abraço doído e doido.
Como tantas vezes o atleticano esteve junto com o time. Qualquer time.
Nada é mais atleticano que aquilo: um time que se comportou como o torcedor.
Solidário na dor, irmão no gol.
O atleticano é assim: tem a coragem do galo, mas não a crista.
Luta e vibra com raça e amor. Mas não se acha o dono do terreiro.
Sabe que precisa brigar contra quase tudo e contra quase todos. Até contra o vento, na célebre imagem de Roberto Drummond.
Aquela que fala da camisa preta e branca pendurada num varal durante uma tempestade. Para o escritor atleticano, ou, melhor, para o atleticano escritor, o torcedor do Atlético sopraria e torceria contra o vento durante a tormenta.
Não é metáfora. É meta de quem muitas vezes fica de fora da festa. Não porque quer. Mas porque não querem.
Posso falar como jornalista há 17 anos e torcedor não-atleticano há 41: não há grande equipe no país mais prejudicada pela arbitragem.
Os exemplos são tantos e estão guardados nos olhos e no fígado.
Não por acaso, o atleticano acaba perdendo alguns jogos e títulos ganhos porque acumulou nas veias as picadas do apito armado.
Algumas vezes, é fato, faltou time. Ou só sobrou raça. Mas não faltou aquilo que sobra no Mineirão, no Independência, onde o Galo for jogar: torcida.
Pode não ser a maior, pode não ser a melhor, pode até se perder e fazer perder por tamanha paixão, cobrando gols do camisa 9 como se todos fossem Reinaldo, pedindo técnica e armação no meio-campo como se todos fossem Cerezo, exigindo segurança e elegância da zaga como se todos fossem Luisinho.
Mas não se pode cobrar ninguém por amar incondicionalmente.
O atleticano não exige bola de todo o time. Não cobra inspiração de cada jogador. Quer apenas ver um atleticano transpirando em cada camisa, em cada posição, em cada jogada.
Por isso pede para que o time lute.
É o mínimo para quem dá o máximo na arquibancada.
A maior vitória atleticana é essa. Mais que o primeiro Brasileirão, em 1971, mais que o vice mais campeão da história do Brasil, em 1977.
Os tantos títulos e troféus contam. Mas tamanha paixão, essa não se mede.
Essa é desmedida. Essa é a essência atleticana.
Essa é centenária.
Essa é eterna.
Mauro Beting Neves Filho.”
Fonte: Terceiro Tempo
4 comentários:
Meu pai me contou tantas vezes essa história que a cada vez que eu escuto sinto um arrepio e uma imensa felicidade por ter nascido atleticano...
Galo sempre, acima de todos e de TUDO!
@flash_rangel
Mauro Beting eu senti lendo o seu texto o frio na barriga que se sente vendo um jogo do Galo, um misto de alegria e tristeza que se transforma em angústia quando vemos que um lance ou um juiz podem mudar um jogo.
É Mauro, meu avô faleceu no mineirão naquele dia, explicar esse sentimento pelo galo nínguem consegue.........O galo é nossa vida, o galo é nossa paixão!!!Saudações Alvinegras
Nunca vi um texto de um jornalista não atleticano tão bem descrito e inspirado. Realmente ele foi muito feliz em suas palavras. É de se arrepiar as palavras e a imagem que crio do mineirão nesse jogo, porque com apenas uma pequena correção no texto, essa torcida pode não é a maior, mas é, certamente, a melhor.
Parabéns Mauro Beting e parabéns Massa por nos fazer sentir parte de algo único e especial.
@leonardo1908
Leonardo V Nepomuceno
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